sábado, 26 de setembro de 2009

A mitologia em Pondal

A MITOLOGIA EM PONDAL



O melhor da poesia pondaliana há que procurâ-lo sem dúvida no breve volume de “Queixumes dos pinos” . Os ritmos sinxelos, as estrofas sonoras e quentes, os intensos latexos do texto, reflexam a baruda voz do poeta. A mítica raizame da tradiçom celta mostra-se expresada nessa voz. Forom os poemas gaélicos os que lhe emprestarom a Pondal o amor à natureza salvagem, o ar de senhardade e afastamento, a reverência pólos feitos gloriosos anteriores à história.

Quando o dolmem de Dombate fala-lhe de tempos recuados, umha tensa ledícia alampa-lhe o peito. O Val de Brantoa, amado dos celtas, desperta-lhe o som de muitas lonjanas lembranças. No mundo da sua paisagem rejurdem velhos ecos das castinheiras de Dormeá, da Campá de Brandomil, ou do garrido castro Nemenço. As musas vistem, no verso pondaliano, tragens ancestrais, e dançam ao acougo das acinheiras sagras a cançon inmorrente ouverá. Noutros momentos tremem os marmúrios do pinheiral de Telha, ou os sons evocadores das campa de Anlhons.

Eduardo Pondal, bardo senlheiro, soubo da existência dumha céltia antiga, traduzindo a cifra estelar dos mistérios. Andivo a ler as nom labradas inscripçons nos penedos das terra solar de Bergantinhos para formular a sua profecia. Fixo vibrar nos seus poemas o nosso passado mais escuro e primigênio, entre o soar dos pinheiros e o balbordo do mar. Trouxo assim os acentos do ignorado preteito; cousas que os livros nom conhecerom e que a tradiçom esquecera. Na sua arpa bárdica puxo à nossa terra a cantar. A travês da arpada música revive a naçom esquecida, e os mitos antingem umha seguridade precisa de verdade.

O poeta bergantinham criou umha mitologia peculiar, a sua, a da Galiza. Resucitando a alma do passado, troucou-na em símbolo dumha pátria velha e eterna. Traduciu o espírito integral da terra própria, birlhando como um luzeiro sobre o mar épico dos destinos. Afundiu os olhos e as mãos na memória do pretérito, e arrincou dela um magnífico botim. Para Pondal, o sentido do mundo era geológico e racial. A paisagem mete-se no cerne da sua poesia. Em ocasons, mesmo semelha que a heroicidade desta é obra do vento. O vento e o mar dam-lhe o seu tom. Só uns pulmons tam rexos puiderom oferecer, sem alentar, tam lonja e aoesa proclama. Trata-se do berro mais expresivo e verdadeiro da natureza galega. A sua voz era a voz dos penedos e dos cons, namorada dos horizontes mareiros. E misturado com ela, o fundo amor ao segredo das gândaras e as branhas.

Os topônimos que reverdez o verso pondaliano guindam-se desde as penedias ao paronama do mar presentido, ou presente, em sinfonia de farallons. Mas emparelham-se também pela ribeira das labranças, pelo terreio preto e calmoso, ourizado pelo rio e animado pólo borborinho dos pinheirais. Som os caminhos e as vertentes de Neminha, Muxia, Morpeguite, Corcubiom, Camarinhas, Coucieiro, Bergantinhos, Suxo. Som os baixios de Camelhe, Corme, Lagem, Ponte-Ceso. Os povos, os lares, os cabos, os cons, prestam-lhes os seus eufônicos nomes à mitologia do poeta. E este re-descobre a velha linhagem que na paisagem asentou as suas expresivas amosas.

O autor de Queixumes dos Pinos sentiu a fonda arela de se ceivar da lama, e ser espírito. Anceiava misturar-se com a natureza, com a do mar bravo na que se guarda a consciência cósmica. Na terra de Xalhas, cenário desta soidade guindou o seu berro baril. Despertou-no um bater de ás salvagens; envejava aos corvos, e queria, esquecido dos homens e do tempo, vagar pela gândara para se atopar mais perto da própria alma. Nos seus poemas, por outra banda, sobranceia o acento profético que o conmoveu. Deu a conhecer a essência primordial, no que tem de baruda, de magnificamente criadora. Esculcou no passado, mas com aceio posto nas energias da vida. Preferiu sempre a soberba intranquilidade do espírito à inquietude apagada da matéria.



Antes que nada, Dom Eduardo Pondal foi intensidade. Encheu a sua obra de tam rexa actitude de viver, que o seu aceno eterniza-se numha encarnaçom de lenda. Foi um sentidor do mundo celta, um poeta de rexo cerne, umha voz funda acugulada de saudade cósmica. Poderia equipar-se a Galiza, com cuia extrana mesturou-se. Por isso, como dixo alguém, os trenos pondalianos fizerom época na história galega; derom a pauta para pescudar as razons históricas que insuflarom vida à realidade geográfica da nossa naçom.

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