sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O caminho - Eládio Rodrigues

O CAMINHO

Terra minha, meiga terra,
terra mansa;
deixat-e de mansedume;
volta-te brava,
verás como entóm
ninguem te asobalha.


Nom todo ha de ser morrinha,
nem ha de ser todo mãgoas,
nem has d’estar pidinchando
como pidinchan os que andam
sempre à esmola dos favores
que abichornam e rebaixam.


Passou o tempo dos choros
e das bãgoas,
e ja é hora de que saibas
ter-te forte com os que mandam,
pois é melhor que che treman
que nom que che tenham lástima.


Quanto mais chores pidindo
mais te verás aldraxada,
que as naçons que choram
som naçons sem alma.


Terra meiga, doce terra,
minha pátria…
Fia-te dos teus esforços
e tem fé cega na raça.


Segue sem medo o caminho
do progresso e das espranças;
caminho seguro,
nom limpo de lama,
que as novas naçons emprendem
e os teus destinos che marcam.


Terás n’él muitos tropeços,
darás muitas cotenhadas,
mais anque tripes espinhas
e sangue che fagam,
e saques os pês feridos
se vas descalça,
nom desconfíes
da redentora jornada,
que à derradeira está o trunfo
dos que podem e os que mandam.


Com a consciência do que vales,
mostra-te brava,
verás como entóm
ninguém te asobalha.


Luita polo teu adianto
com a vontade forte e santa,
que as naçons que luitam
som naçons com alma.


Terra minha, meiga terra,
terra mansa…


Fai que nos teus eidos ermos
cantem de cote as aixadas
o hino trunfal do trabalho;
que fumeguem as tuas fábricas
como os incensários
que nunca se apagam;
que no amor ao cham nativo
comulguem todas as almas;
que n’este espertar glorioso
de redençom e juntança
nom faltem os teus bons filhos,
e que se abram
as fenestras do futuro
cara à nova vida atlântica…


Segue por esse caminho,
se queres ir na companha
das naçons que pensam
e sabem ter alma



Eládio Rodrigues (Raça e Terra, 1922)

Sem comentários:

Enviar um comentário