domingo, 13 de dezembro de 2009

Solstício de inverno e o nosso Apalpador


É sabido que a igreja católica aproveitou toda umha série de festividades que marcavam o ritmo das sociedades existentes antes da cristianizaçom, tingindo com um novo verniz celebraçons e festas com milénios de história.


Assim sobre as celebraçons pagás do solstício do Verao colocou o Sam Joám, ligou o entuido em que celebramos a extinçom do Inverno com a quaresma e santificou as festividades dedicadas à morte que desde muito atrás coincidem na nossa cultura com os primeiros compassos do Outono. Mas guardou a celebraçom mais importante, a do nascimento do filho de deus, para a situar nas mesmas datas em que a maior parte das culturas europeias anteriores à era cristá celebravam o solstício do Inverno, como momento de renascimento do ano.


Dessa sobreposiçom do cristianismo sobre os restos culturais pré-existentes temos um bom conhecimento na Gallaecia, porque nom se trata só da adaptaçom ao calendário, mas da mesma ocupaçom dos espaços empregados de antano para cultos pré-cristaos sobre os quais, sem nengum complexo, levantarom-se ermidas e cruzeiros para os adaptar ao cristianismo.


Porém, e apesares do esforço que o cristianismo fijo para apagar qualquer pegada dos cultos e crenças populares, som muitos os vestígios que ficárom como testemunho. Nalguns casos com mais sucesso que noutros, mas em todos eles como prova das fundas raizes que o nosso povo mantém como a cultura emxebre que é.


Pode que o caso das tradiçons ligadas ao solstício de inverno sejam algumhas das mais perjudicadas por séculos de tergiversaçom, marginalizaçom e ocultamento. E neste caso o proceso de aculturizaçom tem-se agravado pola superposiçom a umha primeira deturpaçom de orige católica, com séculos de andadura, da poderosa maquinária ideológica do capitalismo que pretende homegeneizar a cultura popular a um nível global.


Mas por baixo do Pai Natal, o negócio da Coca-Cola e do Corte Inglés; mesmo por baixo dos Reis Magos e o nascimento de Cristo, na Gallaecia mantivérom-se pegadas de antigas tradiçons que é preciso recuperar.


Assim nalgumhas comarcas da alta montanha do leste da Gallaecia, no Courel, Lóuçara e o Cebreiro; mantinha-se até datas muito recentes a tradiçom do Apalpador, um gigante com ofício de carvoeiro, que, no Natal, baixava das devesas onde morava para as aldeias, com a intençom de apalpar nas barrigas das crianças e assim comprovar se estavam bem mantidos. O Apalpador vigilava que as crianças viviram com fartura, desejava-lhe que no vindouro ano continuaram a nom passar fame, e deixava-lhes umha presa de castanhas quentes como presente e lembrança da sua visita.


Possivelmente esta antiga tradiçom do Apalpador seja um dos mais antigos vestígios da nossa cultura. E como parte dum património ameaçado devemos pular por mante-lo e actualiza-lo.


Por que imos ter que asumir os dictados impostos por quem quere aculturizar-nos? Por que temos que ceder aos mandatos do consumismo capitalista e da tradiçom católica e mesticista?


Aproveitemos também as celebraçons do natal para manifestar a nossa vontade de rebeldia e a nossa afirmaçom como naçom, e escomezemos por recuperar a figura do Apalpador.

Que nom seja mais o barbudo publicista da Coca-Cola, nem os submisos monarcas semíticos os que traiam os presentes aos fogares da nossa naçom.

Deixemos que seja um galaico, um honesto e trabalhador carvoeiro, quem venha agora com os presentes para as nossas moradas, e que as castanhas de antano sejam acompanhadas por outros bens que a sua generosidade de seguro lhe permite doar.

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